Um sonho real

Na madrugada de sábado pra domingo, tive um sonho estranho, mas animador. Nele, eu estava na arquibancada do Engenhão, antes de um jogo contra o Fluminense, dando uma espécie de entrevista pra um programa de TV. Falava sobre a minha trajetória como botafoguense até ali, todas as decepções, derrotas, vitórias, alegrias e todos os momentos de dúvida e decepção que de tempos em tempos afetam os torcedores de futebol.

Até aí, nada demais. Só que a pergunta seguinte me fez entender a situação: "e qual é a sensação de estar prestes a comemorar um título brasileiro?". Sim, eu estava na última rodada do presente campeonato, a uma vitória de sermos campeões. Por diversas vezes durante a tal entrevista eu me emocionava. Era muito real, e eu podia sentir a adrenalina daquele momento. Será que era uma visão? Se for, uma coisa de certa forma me incomodou: eu acordei antes do final. Não pude saber o final daquele sonho, e confesso não saber se isso foi bom ou ruim. Só saberei no dia 4 de dezembro.

E enquanto esse dia não chega, o Botafogo me faz sonhar acordado. O campeonato desse ano nos dá a impressão de recém-começado, mas já atingimos sua metade. E depois de um início complicado, com um plantel incompleto e sem filosofia de jogo alguma, o Brasileirão dava indícios de que, pra nós, seria só mais uma decepção em 2011. Só que as peças foram chegando, Caio Jr foi desenvolvendo seu trabalho e, diante de prós e contras, nos encontramos em 5º lugar, na zona de classificação à Libertadores e a três pontos do líder.

É fácil perceber, mesmo diante de alguns erros, quando existe qualidade e conhecimento. Em 19 jogos, Caio Júnior obteve 10 vitórias. Ano passado, durante todas as 38 rodadas do campeonato, Joel conseguiu 14. Quase o mesmo número, com o dobro de jogos. Isso sem falar em escalações, padrão de jogo - não tínhamos em 2010 -, conhecimentos táticos e vontade de vencer. O erro mais perceptível do Caio Júnior, até agora, são suas substituições, muitas vezes erradas. O popular "mexer mal".

Analisando friamente a tabela e seus números - muitas vezes traiçoeiros - poderíamos concluir, em conferência com o post aqui do blog em que debatemos o elenco e suas capacidades, que isso estava dentro do esperado. Mas se nos permitirmos olhar além dos números, tendo em vista o futebol jogado pelos times da ponta, a nítida evolução tática e técnica do Botafogo e as rodadas favoráveis, podemos certamente almejar mais. Muito mais. A grande questão é: diante do dinamismo do futebol, será que essas variáveis podem se manter pelas próximas 19 rodadas?

Olhando apenas o nosso lado dessa história, imagino que sim. Caio Júnior deu um padrão tático ao time, apesar de algumas falhas no posicionamento defensivo - nada que não se acerte com muito treino. Já pelo lado técnico, é visível a evolução do time com a boa fase de jogadores importantes. Jéfferson, sempre seguro e justificando suas convocações; a entrada do Lucas no time titular, participando com assistências e gol decisivos; a ótima estabilidade de Antônio Carlos - que sua lesão não seja nada grave; a volta de Loco Abreu, que mesmo sumido num jogo, causa preocupação e é decisivo; a volta do bom futebol de Marcelo Mattos e, principalmente a campanha monstruosa de Elkeson e a classe, objetividade e qualidade de Renato. Os dois últimos são fundamentais pra enorme evolução do nosso meio-campo. Renato conserta tudo, faz desarmes cirúrgicos, acerta jogadas erradas, joga sempre de cabeça em pé e raramente erra um passe. Daí solta a bola nos pés do Elkeson, que sempre dita o ritmo de nossas principais jogadas ofensivas.

É claro que vai ser perfeitamente compreensível se esse panorama de nossa equipe se alterar completamente com a sequência dos próximos jogos. Mas é aí que se reconhece um time campeão: a regularidade e a vontade de vencer sempre, que se unem num só objetivo, que é o título. Quando não dá na técnica, vai na vontade. Quando não dá nem na vontade, o jeito é contar com a sorte. E pode crer que se o ambiente é favorável, ela vem. Mas não pode ser sempre!

Por isso, precisamos continuar nessa batida. A vontade de vencer, a técnica pra impor nosso ritmo e a tranquilidade pra reverter resultados adversos, quando necessário. Fundamental também é a torcida, que comprou a briga no clássico contra o Fluminense, foi maioria absoluta e apoiou o jogo inteiro, principalmente enquanto perdíamos. Assim que tem que ser daqui até o final em NOSSA casa. Compareçam!

Quem sabe assim esse meu sonho não se torna realidade? Não precisa de entrevista ou algo do tipo. O que importa mesmo é sermos campeões. E, depois dos últimos anos, cá entre nós: merecemos demais!

ps.: Nada mais justo do que dedicar um espacinho aqui no blog a uma causa que cabe não só a nós, mas a tordas as torcidas do Brasil. Presto aqui a solidariedade alvinegra ao técnico Ricardo Gomes, que sofreu um AVE no último domingo e está internado em estado grave, porém estável. Melhoras, que tudo corra bem e que muito em breve esteja de volta aos gramados!